“Reféns da Próprias Emoções”, de João Carlos Melo

Faz dois meses que li este livro, um livro muito empático e acessível de ler.

João Carlos Melo é médico psiquiatra, psicoterapeuta, grupanalista, já escreveu diversos livros tais como – “As faces do Inconsciente”, “Inconsciente Está No Cérebro” e “Nascemos Frágeis e Recebemos Ordens Para Sermos Fortes”.

João Carlos Melo começa por retratar neste livro pacientes com Perturbação Bordeline, como «pessoas incompreendidas, como incompreendida é a doença que as faz sofrer.» O autor dá um olhar mais humano e mais esclarecido sobre esta doença mental.

Eu sofro desta perturbação de personalidade, alguns mais próximos já sabem, para outros é uma novidade, tais como vocês meus leitores.

Muitas poucas pessoas (ou quase ninguém) ouviram falar desta doença.

Será que existem mais pessoas com esta doença?

João Carlos Melo começa com uma pergunta pertinente, “O que é que Marilyn Monroe, Janis Joplin e Amy Winehouse tinham em comum?”, estas grandes personalidades “eram excessivas, intensas, as relações que estabeleciam eram dramáticas e tumultuosas e tinham atitudes autodetrutivas.”

Quem sofre deste distúrbio de facto são pessoas assim, mas nós não somos ovelhas negras ou de mau caráter, simplesmente as nossas emoções são mais intensas que o normal.

Afinal o que isto o que é a Pertubação de Bordeline?

O Transtorno da Personalidade Borderline, é caracterizado por um padrão difuso de instabilidade das relações interpessoais, da autoimagem e dos afetos e de impulsividade acentuada que surge no início da vida adulta e está presente em vários contextos”

http://www.itad.pt/tratamento-de-psicologia/transtorno-da-personalidade-borderline/

Há quatro anos, após uma crise que me levou a uma tentativa de suicido, fui diagnosticada com Perturbação de Bordeline.

Para mim esta doença é viver sempre nos limites, acaba por interferir um pouco com a vida, mas nada que não se consiga controlar com o tratamento certo. Na verdade, esta doença para mim, define quem eu sou, um vulcão pronto a entrar em erupção a qualquer momento.

Se para nós é difícil viver com isto, imaginem para quem convive diariamente com estas pessoas?

Essas sim também são vítimas porque sofrem juntamente connosco.

João Carlos Melo indica «No passado este quadro clínico era atribuído a traumas de infância, mas os estudos epidemiológicos mostram que é um temperamento que nasce com a pessoa.» 

Na minha adolescência, eu sabia que algo estava errado, os sinais sempre estiveram lá, fui seguida, sim, por uma psicóloga na altura, mas nada indicava que estava a passar por esta tipo de doença.

Um dos primeiros sintomas que sempre esteve presente, foi a raiva, era o meu pior pesadelo, não entendia aquele amor ódio sempre ali. Ora adorava, ora odiava, eram mudanças também repentinas, podia gostar muito da pessoa naquele dia, mas passado três ou quatro dias bastava uma atitude errada que começava a odiar essa pessoa.

Sempre tive uma autoestima muita baixa, aliás eu nunca gostei de mim mesma. Mas aprendi a lidar com isso através da escrita, escrever aquilo que eu sinto ajuda-me a ser mais positiva comigo mesma.

É neste livro que vejo espelhada a minha imagem. Sou eu a tentar controlar as minhas emoções, a raiva que por vezes que sinto é tão profunda que acabo virá-la contra mim mesma.

Os sintomas mais comuns desta doença são:

  • Ataques intensos de depressão ou ansiedade
  • Medo incontrolável de abandono por amigos, familiares e pessoas próximas 
  • Auto-imagem distorcida
  • Graves alterações de humor, irritabilidade e acessos de raiva
  • Comportamento destrutivo (abuso de substâncias, gastos excessivos, condutas de risco)
  • Ideias suicidas e tentativas de suicídio 

https://visao.sapo.pt/atualidade/sociedade/2021-05-16-viver-no-limite-a-dura-odisseia-de-quem-tem-perturbacao-borderline-da-personalidade/

Infelizmente para a sociedade, somos fracos, doentes, malucos, sim, infelizmente é isto. Mas eu digo-vos uma coisa, a mim não me importa que digam isso porque eu tenho a minha consciência tranquila porque sei, que sim, eu tenho uma doença mental, é uma doença como todas as outras, e não há mal nisso!

João Carlos Melo indica que esta perturbação se chama uma perturbação de personalidade “porque as pessoas com esta doença não pertencem a nenhum destes grupos: o das neuroses e das psicoses. Ficamos ali nas fronteiras, sem nunca podermos entrar em nenhum dos espaços”.

Infelizmente isto não tem cura, mas dá para atenuar os sintomas com medicação correta e com terapia.

Com este livro fiquei com uma noção maior desta doença, o psiquiatra João Carlos Melo deixa no final deste livro um guia prático para os que sofrem desta doença e claro também para os que acompanham.

Foi por causa desta doença que surgiu este blog, aqui abordo alguns temas que são também sintomas da doença. No que toca à saúde mental, muitos poucos temas são falados e temos o exemplo desta perturbação de personalidade tão pouco fala e incompreendida por muita gente.

Os temas que abordo aqui são sobre as minhas emoções, os meus sentimentos e o meu sofrimento, e tento com isso ajudar outras pessoas que estejam a passar pelo mesmo.

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